Lígia Blat
Tem gente que vem todo dia que vai: entregam o adeus no cais. Não é partida que céu pode cobrir; a ausência chega a cortar até o sol eterno. Quando a noite morre a luz brilha pra baixo, os olhos ficam pequenos e imensidão vem escorrer. Tristeza já nem mais cabe, escapa pela boca em mergulho que desperta existência. Vai sentir se desmontar, mas tem sal que segura até pedra de mar triste. Vento traz conversa de pescador: “Aqui me tenho, mesmo que o mar seque.”
Lígia Blat é escritora, poeta e professora, autora de “O grito vem da carne” (Patuá, 2020).