Tarso de Melo
[para Maria Esther Maciel]
O andorinhão-preto é capaz de voar durante dez meses. Sem pouso, sem folga. Os cientistas sabem que sim, mas não sabem como, não sabem por quê. Ainda não foi possível saber precisamente como ele se alimenta ou mesmo a razão para que migre durante tanto tempo, mas já se sabe que o andorinhão-preto troca todas suas penas durante o voo longuíssimo, em que chega a atingir 170 km/h. O andorinhão-preto gira pela Europa, mas passa os verões na África. Em geral, seu corpo escuro mede 15 cm e suas asas em forma de foice têm 50 cm de envergadura. Os cientistas sabem que o andorinhão-preto dorme e copula no ar. Para dormir, o andorinhão-preto sobe a 2000 metros e bate as asas mais lentamente, 7 vezes por segundo. Acredita-se que o andorinhão-preto consegue prever más condições climáticas na sua rota e, para evitá-las, desvia muitos quilômetros e volta à rota assim que se sente mais seguro. “Apus” quer dizer “sem pé”. O andorinhão-preto não gosta do chão: só pousa para colocar seus ovos e proteger os filhotes, até que também possam voar. O homem? Não.
Tarso de Melo é poeta e ensaísta, autor de “Rastros” (2019).